Ondas de arrepios. Lágrimas nos olhos em alguns momentos. Emoção do início ao fim. E falando “lindo, lindo, lindo” ao final. Foi assim a minha experiência ao assistir ao filme Axé: Canto do Povo de um Lugar.
O documentário, tendo como foco um ritmo musical, explorou com louvor essa faceta. Tudo começa com “Baianidade Nagô” cantado de forma lírica por Ivete Sangalo e com imagens do nosso carnaval ao fundo. Já arrebatador e saudosista nos primeiros acordes. O que se seguiu foi um apanhado de depoimentos de artistas, produtores musicais, radialistas e músicos, com vídeos e imagens de acervo, numa tentativa de montar o “quebra-cabeça” e ir contando essa linda história em sua cronologia e complexidade. O ritmo do documentário é acelerado e envolvente, igual aos principais clássicos do axé retratados no filme.
A primeira grande questão do documentário ” Axé: Canto do Povo de um Lugar” se refere a quem seria o “pai do axé”. E foi difícil encontrar ou definir o pai ou um único pai. Mas uma coisa todos concordam: Luiz Caldas é o seu primeiro filho – o primogênito. O ano oficial do seu nascimento é 1985 e a música “Fricote” é a responsável por essa alvorada musical. (A emoção já era forte e estava apenas começando!).
A história segue sendo contada de forma mais ou menos cronológica por seus principais personagens e operadores do movimento (destaque para Wesley Rangel); mesmo não tendo, na época, noção que eles próprios eram agentes do que estava começando a florescer. Importante registrar que, apesar do filme tocar em outras nuances, ele se atém, precipuamente, à história dos principais artistas musicais e blocos de carnaval.
Na tentativa de explicar essa trajetória, anteriormente a Luiz Caldas, há referências fundamentais a Dodô e Osmar, Morais Moreira (primeiro cantor de trio elétrico), Novos Baianos, entre outros, com destaque especial no filme ao cantor Gerônimo.
Foram reveladores e emocionantes os depoimentos de Margareth Menezes (que merecia um destaque beeem maior no documentário! ?) ao dizer que viu o Olodum tocando pela primeira vez no Elevador Lacerda e que havia “se arrepiado do pé a cabeça”; bem como o de Caetano Veloso e Daniela Mercury ouvindo pela primeira vez uma “música estranha” e o que ela já provocava nas pessoas na Praça Castro Alves. A música em questão era “Faraó – Divindade do Egito”. Estava despontando o Olodum e, para Daniela Mercury, um verdadeiro “divisor de águas”. Muito interessantes também os depoimentos sobre como surgiu a famosa e avassaladora batida típica do Olodum. ?
Na sequência, destaques importantes para a cantora Sarajane e a música “A Roda” e o despertar de demais blocos afros. A suma importância do Ilê Aiyê, também como símbolo do empoderamento da cultura negra e o Araketu que levou o romantismo aos blocos afros.
Segundo os relatos, as coisas (o fluxo, movimento) iam acontecendo naturalmente e tudo ainda acontecia sem uma maior organicidade. As bandas iam surgindo e dando modesta identidade a algo que ainda era incipiente. A importância da Banda Mel com “Prefixo de Verão” e “Baianidade Nagô” e a Banda Reflexus com “Senegal”. Chiclete com Banana já iniciava sua história de sucesso; vem, então, o importante Netinho com a fenômeno “Beijo na Boca”, Ricardo Chaves, Durval Lelys e a formação dos blocos de carnaval.
Com Daniela Mercury, que recebe a coroa de rainha do axé de Caetano Veloso, o axé music é visto pela primeira vez pelo Brasil com uma imagem mais profissional e todos os olhos se voltam à Bahia e ao que está acontecendo aqui. Acontece também uma explosão no exterior. O Olodum grava com Paul Simon e Michael Jackson. A Timbalada e Carlinhos Brown (presente desde os primórdios!) surgem com outras propostas musicais. Bandas que exploram, ao modo baiano, o samba de roda de raiz emergem, como o É o Tchan, Terra Samba e Harmonia do Samba.
Ivete Sangalo é retratada quase que como um capítulo à parte. Ainda hoje é o principal símbolo da axé music e se tornou maior que o próprio movimento, sendo considerada a maior artista em atividade no país.
Apesar de ocupar bem menos espaço, eles não se privaram de falar da famigerada crise do axé. Os motivos elucubrados foram muitos: ganância dos empresários, desunião entre os artistas, individualismo, excesso de pedestal e a falta de um coletivo forte. No auge, é consenso, ninguém quis pensar o movimento, nem evoluir, apenas reproduzir sua fórmula de sucesso e lucrar cada vez mais. Os espinhos da flor também ficaram por conta da lamentável ruptura do Chiclete com Banana, banda de maior sucesso do axé, onde ficou definido que o problema foi familiar.
Ao fim e ao cabo (do filme, porque a história da axé music, sim, continua), Saulo Fernandes é retratado como o “messias” da necessária renovação e, aparentemente, o único que traz alento e esperança ao que pode estar por vir. Um músico de músicas modernas, com elementos baianos e africanos, que olha para para esse glorioso passado e tenta-o projetar para o futuro. O único que faz, hoje, o axé que eles faziam.
E assim, de forma nostálgica e saudosista, a atual e já clássica “Raiz de todo bem” é entoada com imagens do carnaval das antigas. Não é que combinou? Tudo na mais perfeita sintonia.
Aplausos da plateia.
E a minha vontade? De pegar um DVD de Axé – Canto do Povo de Um Lugar e sair entregando para todo amigo ou desconhecido na rua e dizer: “assista, assista, assista!”.
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