Crise do axé, 30 anos do axé

Sobre a tão falada crise do axé e o que virá…

A primeira coisa que vem à cabeça sobre a tão falada crise do axé, no ano em que se comemora os 30 anos do Axé, é: quem não tem a crise dos 30, não é mesmo?

Na real, eu acho que essa “crise” só alcançou todo esse holofote, porque, coincidentemente, os dois maiores dinossauros da axé music, Bell Marques e Durval Lelys romperam com suas bandas. E quer saber? Foi até bom que isso já ocorreu, porque se todos se perguntavam como seria o Carnaval de Salvador daqui a alguns anos, quando por vários motivos não existissem mais Chiclete com Banana, Asa de Águia, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Carlinhos Brown, etc… foi bom que essa ‘crise’ tenha sido logo desencadeada, pois dá tempo logo de pensar, repensar, desconstruir, reconstruir, construir, reinventar… quem sabe um novo/outro modelo de carnaval, explorando novos caminhos e adaptando rumos.

Nem é preciso dizer que não há crise para os nossos milionários artistas. Mesmo que nenhum dos mais famosos faça um show a mais sequer. A tal crise, basicamente, é uma diminuição de ganhos exorbitantes de alguns nossos blocos de carnaval sempre acostumados a cifras elevadas. Se dez anos atrás pagar R$1.000,00 num único dia de carnaval podia ser natural, hoje, pode não ser mais, um dia pode não dar mais. Um dia as pessoas podem não achar mais justo e esse modelo, fatalmente, não iria se sustentar para o todo e sempre.

Afinal, o que não muda? O modelo segregacionista do nosso carnaval – das cordas, dos cordeiros, dos ambulantes, das condições precárias desses trabalhadores, do grande apartheid a olhos nus (que não é novidade desse ano) -, também começa a dar sinais de desgaste, mas nesse caso, é uma crise boa e muito bem-vinda! E como tudo muda e precisa evoluir, uma maior visibilidade e consciência dos nossos podres precisam também vir à tona.

Quanto à musicalidade da axé music, é natural que sucessos de uma única categoria musical não explodam nas rádios por trinta anos a fio. Para cada verão, há um inverno. E é sabido que novos ritmos, sons e artistas são forjados para fazerem “sucesso” e “explodirem” graças a muito capital financeiro. Há sempre um “admirável mundo novo” para ‘empresários engajados’ explorarem. A roda precisa girar para o bem de todos.

E se tá faltando axé, artistas e músicas de sucesso, por que tanta perseguição ao jeito pessoal da Claudia Leitte, ao ponto de querer desqualificá-la até como cantora? Meu filho, agradeça uma Claudia Leitte da vida que, bem ou mal, criou um nome nacional e que tem importância, sim (!), para a música e para a diversidade do Carnaval da Bahia. Ou será que creditam a apenas a Ivete Sangalo o sucesso do nosso carnaval? Coitada, ela não merece esse peso e já mostrou este ano que não é e jamais pode ser a única dona ou responsável da festa, dando adeus bye bye à terça do nosso carnaval.

Verdade seja dita que, há algum tempo, muita coisa já vem mudando… Já se foi o tempo áureo e maravilhoso de Daniela Mercury ou Durval Lelys no Inter. Do saudoso Coruja com Ricardo Chaves. Aquela coisa absurda em todos os sentidos com o Camaleão na Avenida. O sucesso absoluto quer era Márcia Freire no Cheiro de Amor. Ivete bombando no Eva. O Papa com Serginho (maravilhoso!). Netinho enlouquecendo o Beijo…

É, os anos passam, e as mudanças vêm, inevitavelmente. Desfilar na Avenida talvez não tenha mais a emoção e o frisson de outrora, chegar à Praça Castro Alves pode não ser mais antológico. A própria supressão em alguns anos da Av. Carlos Gomes já foi uma mudança brusca. A ascensão do circuito Dodô na Barra, movimento liderado por Durval e Daniela, as mudanças nos circuitos, com os blocos tradicionais da avenida também indo pra Barra, a explosão dos camarotes, já haviam mexido muito com o ‘modus operandi’ e o âmago da festa.

E se o sucesso de outrora era essa diversidade, e como toda diversidade de cunho mais comercial, passageira, como nos mostra a atual realidade; talvez, tenha chegado a hora de, finalmente, dar luz e voz também às nossas raízes e a outras pratas da casa: os blocos afro (riquíssimos!), artistas de ouro (que estão fora da mídia), blocos de samba (que arrastam multidões), bandas de fanfarra (não só no circuito do Pelourinho), Mudança do Garcia (manifestação popular incrível e divertida), entre tantas outras coisas.

E dar luz, principalmente, ao povo baiano. O carnaval de rua de Recife e do Rio de Janeiro estão aí para mostrar que carnaval não é feito apenas de artistas mas, precipuamente, de pessoas, elementos culturais, música, diversidade, democracia e alegria. Já é uma boa receita para mais trinta anos de carnaval!

Foto: Reprodução / Internet

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